Parque Nacional Peneda-Gerês

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Olá pessoal! Aqui é a Rita e o André. Bem-vindos ao nosso primeiro post oficial! Antes de começarmos a partilhar as nossas receitas vegan e saudáveis convosco, vamos contar-vos tudo o que há para contar sobre as nossas viagens e aventuras juntos. Pode parecer um bocado tarde para publicar um post sobre a nossa passagem de ano de há um ano atrás. Mas hey, mais vale tarde do que nunca, certo? Aqui vai. Ainda que sejamos os dois naturais de Faro, a cidade mais a sul do país, parte da família da Rita (o lado paterno) é natural de uma das cidades mais a norte do país, Viana do Castelo (sobre a qual iremos escrever um post brevemente!). Todos os anos a Rita visita as terras minhotas para passar algum tempo com a família e ocasionalmente explorar a região. Tendo isto em conta, não demorámos muito a concordar que queríamos visitar juntos o Parque Nacional Peneda-Gerês, um dos sítios mais mágicos de Portugal continental.

Já tínhamos estado no Gerês com as nossas famílias (em separado, claro) quando éramos mais novos. E também já tínhamos por lá passado na primeira vez que o André foi ao Minho, para conhecer a família nortenha. Uma vez que as tradições de Natal da família Parente incluem uma viagem de carro de 700km que atravessa o país de uma ponta a outra para estar com a família, no ano passado decidimos ficar por mais um tempo, passar uns dias no Gerês e celebrar lá a Passagem de Ano.

Acordámos um dia bem cedo, ainda na casa dos avós da Rita em Perre (perto de Viana do Castelo) e arrumámos as nossas coisas. Enfiámo-nos no carro e fomos até ao Gerês, sempre por estradas nacionais. Dispensamos a auto-estrada sempre que for razoável e assim não só poupamos o dinheiro das portagens como ficamos a conhecer melhor as paisagens rurais portuguesas. Tínhamos reservado um quarto na Pousada do Gerês ainda em Setembro, garantindo um preço bem simpático por 3 noites numa das épocas turísticas mais altas (win!). A Rita já lá tinha ficado uma vez com a mãe e a irmã quando tinha 12 anos e desde então que sonhava em voltar.

Chegámos lá depois de 4 horas na estrada (levámos o nosso tempo e parámos algumas vezes para visitar as vilas e cidades que encontrámos pelo caminho) e fomos directos para a Pousada. Está situada bem no topo da serra e tem uma das melhores vistas panorâmicas sobre o parque nacional. O nosso quarto era tudo o que esperávamos para o nosso retiro, pequeno e aconchegante, com uma varanda de pedra virada para as montanhas (que acabámos por nunca usar... temperatura média de 4ºC!).

A Pousada ainda fica a alguns quilómetros de distância da Vila do Gerês, por isso decidimos ficar por lá na nossa primeira noite e aproveitar ao máximo a lareira depois de um pulinho ao supermercado mais próximo para comprar pão e fruta fresca. Uma nota: não é fácil ser vegan/vegetariano no norte de Portugal. Lá vive-se basicamente de chouriços, morcelas e carne fumada, e torce-se o nariz a quem se recusa a comer essa género de coisas. Felizmente, as bananas já estão por toda a parte nos dias de hoje e nós não temos quaisquer problemas em comer 5 ou 6 por dia, cada um! Com mais umas maçãs, um bom pão e uns frutos secos, temos os nossos snacks e lanches garantidos.

Na nossa primeira manhã no Gerês levantámo-nos bem cedo (ninguém tinha tempo a desperdiçar na cama), tomámos o pequeno-almoço com uma vista brutal e enfiámo-nos no carro para explorar o parque nacional. Rapidamente nos apercebemos do facto de que o que parecem montanhas são na realidade... Cabras. Montanhas de cabras. Heh. Honestamente, há cabras por toda a parte. Depois de termos ficado presos no trânsito caprino por alguns minutos (durante os quais a Rita não conseguiu parar de guinchar de alegria) e de salvar uma pequena cabrinha que tinha ficado presa numa grade, chegámos à barragem de Vilarinho das Furnas. É uma barragem em arco construída entre 1964 e 1972, tem 94 metros de altura e contém as águas do rio Homem.

O que esta barragem tem de mais curioso é o facto de ter dado a conhecer as ruínas da vila anciã do mesmo nome, Vilarinho das Furnas. Funcionava como vila comunitária, totalmente auto-sustentável e ainda ninguém parece ter chegado a uma conclusão quanto à data da sua construção. Os registos mais antigos datam do século XVII, mas os historiadores estimam que tenha sido construída no ano 70 d.C., na mesma altura em que foram construídas as estradas e pontes Romanas da mesma região. O pormenor mais caricato remete para o facto de a vila estar submersa pelas águas do rio contido no reservatório da barragem. O nível da água desce durante as épocas mais quentes (e particularmente durante períodos de seca) e as ruínas são expostas, o que atraí imensos visitantes. Mas, como podem imaginar, fazer uma caminha de 11km para olhar para umas ruínas submersas não está incluído nos planos do dia 30 de Dezembro de maior parte das pessoas. Mas nós não somos da maior parte — e foi precisamente isso que fizemos.

Então lá caminhámos os 11km, durante os quais não nos cruzámos com ninguém a não ser cabras (TANTAS CABRAS), apenas para descobrir que as ruínas estavam quase totalmente submersas. Mas não nos arrependemos nem um bocadinho. A verdade é que se pudemos sentir a energia espectacular que aquele sítio emana. Teríamos repetido aquela caminhada vezes sem conta. Se a nossa 'estória' vos despertou a curiosidade mas a nossa foto de meia dúzia de pedras que mal se aguentam acima do nível da água não vos satisfaz, aqui têm. É mágico.

Depois da caminhada, parámos pela Vila do Gerês para almoçar (optámos por sopa, das poucas opções vegetarianas da região), demos uma volta pela serra circundante e passeámos pelas trilhas. Voltámos para a Pousada ao fim da tarde e sentámo-nos junto da lareira a beber umas cervejas enquanto apreciávamos o pôr-do-sol. Ficámos na Pousada para jantar. Mimámo-nos com uma garrafa de um vinho especial e escolhemos o risotto de cogumelos do chef.

Na manhã seguinte levantámo-nos ainda mais cedo do que na anterior, enfrentámos o frio lá fora e não demorámos muito a chegar a outro dos sítios mais visitados do parque nacional — o miradouro da Pedra Bela. Tem uma das vistas panorâmicas mais impressionantes que já pudemos apreciar (cof cof, mas não bate a do Trolltunga). Pode-se ver a montanhas, a lagoa, a confluência dos dois rios e tanto, tanto verde. Foi particularmente especial com aquela luz da manhã a romper pelas árvores.

Em retrospectiva apercebemo-nos que não parámos nem um segundo nesta véspera de Passagem de Ano. Depois de absorver a maravilha da vista da Pedra Bela, conduzimos até outro local muito procurado no Gerês, estacionámos o carro e caminhámos uns quilómetros até à cascata do Arado, a maior do Gerês. Aqui jurámos que teríamos de regressar. DURANTE O VERÃO. Para saltitar e chapinhar nas águas cristalinas dos rios. Logo damos sinal quando isso acontecer!

Os relógios não paravam e nós queríamos aproveitar ao máximo o nosso último dia completo no Gerês, então fomos até à aldeia de Ermida, onde adivinhem só. VIMOS MAIS CABRAS! Ermida é uma das vilas mais bonitas que já visitámos e ainda hoje sonhamos acordados com a ideia de montar o estaminé por aquelas bandas e viver a vida junto das vizinhas mais queridas e amigáveis de todas, as cabrinhas anãs. Ficámos encantados com o estilo de vida simples e natural que ainda se vive naquelas montanhas. Não há centros comerciais, não há parques de estacionamento... E não há necessidade nenhuma de quaisquer coisas dessas.

Mais ou menos agora é onde se encaixa a nossa pequena história de terror. Tínhamos umas horas de luz quando o André se lembrou que ainda havia tempo de fazer mais uma caminhada. A caminhada que leva à lendária ponte medieval da Mizarela. A ponte atravessa um desfiladeiro onde corre o rio Rabagão e conta a lenda que foi construída pelo próprio Diabo. O lugar está associado a inúmeras histórias mirabolantes, e na vontade de ver a dita ponte com os nossos próprios olhos, conduzimos até ao local onde achámos que começava o trilho (estávamos errados). A Rita não estava muito convencida, mas um velho que vivia ali disse-nos que tínhamos apenas que seguir a estrada de pedra Romana, passar pelo cemitério (nada sinistro) e que estaríamos na ponte em menos de nada. O sol já se tinha escondido por trás das montanhas e faltava cerca de 1 hora para o pôr-do-sol, mas eram só 4 quilómetros. Então lá fomos nós. Aguentámo-nos para aí 20 minutos até desistirmos e darmos meia volta. Não havia qualquer estrada Romana, apenas um caminho enlameado onde encontrámos uma série de clichés assustadores que apontavam para o facto de estarmos prestes a protagonizar um filme de terror. Pássaros mortos do chão. Uma casa em ruínas com uma forca lá dentro. E um arrepiante velhote (muito velhote) cego que apareceu do nada. Na realidade, ele foi simpático e cumprimentou-nos mas a sério, UM VELHO CEGO?! Ora bem, voltámos para trás e caminhámos o mais rápido possível rumo ao nosso carro. Cruzámo-nos novamente com o primeiro velho apenas para ficar ainda mais assustados. Perguntou-nos se tínhamos ficado com medo e começou a contar-nos as histórias de como "o mau olhado andava a roubar as placas de sinalização". Passou então a mostrar-nos o que guardava com muito orgulho no seu quintal: uma pedra anciã usada pelos Romanos para enforcar os traidores que desafiavam as suas leis. Logo depois, rompe uma discussão entre o velho e a sua mulher (que soava a bruxa) e ameaças de porrada voavam de um lado para o outro. Borrámo-nos de medo, enfiámo-nos no nosso carro e agradecemos ao universo assim que chegámos à Pousada por estarmos inteiros. Talvez noutra altura, Ponte da Mizarela. Talvez noutra altura.

Quanto à Passagem de Ano propriamente dita. A Pousada tinha organizado um jantar acompanhado por uma banda (pimba) que custava uns meros 100€ por pessoa. Mesmo que nos pudéssemos dar ao luxo de pagar 200€ por uma refeição (quase tanto quanto toda a reserva), todos os pratos tinham carne, ovos ou lacticínios. Simplesmente não era opção. Depois de nos apercebermos que não nos podiam servir uma refeição simples e vegetariana por menos do que o valor total do jantar, demos um pulo até à Vila, empanturrámo-nos com sopa, pizza de vegetais e batatas fritas. Comprámos pão, bolachas, fruta, cajus e uma garrafa de vinho e voltámos para o nosso quarto onde assistimos a um ou dois programas foleiros da televisão portuguesa. No bater da meia-noite, saímos ao pátio, onde a vista panorâmica nos presentou com uns 7 ou 8 fogos-de-artifício diferentes, em todas as vilas da região. Parece tão simples. Mas não foi nada mais nada menos que um espectáculo.

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Na manhã seguinte, levantámo-nos, arrumámos as nossas coisas e demos uma última volta de carro. Despedimo-nos com um "até um dia" da vista maravilhosa e rumámos a casa. Se alguma vez tiverem a oportunidade, não hesitem em visitar o parque nacional Peneda-Gerês. Não vos vai desiludir. Agora estamos a poupar para viagens a sítios novos e entusiasmantes, mas vamos honrar a promessa de que não podemos demorar muito a voltar ao Gerês.